Just a Tattoo...



Nunca fui grande apreciadora de tatuagens.
Defendo que cada um tem o direito de fazer do seu corpo o que entender, e eu entendia que isso de imprimir no corpo algo definitivo não era para mim. Até há poucos meses eu dizia, muito convicta, que nunca faria uma tatuagem! Hoje foi o dia em que o Nunca voltou para me morder no rabo...
Sinto-me tão feliz com a minha escolha que não quero deixar de a partilhar aqui, onde cabe tudo o que sou.

My tattoo...

  • Hoje - porque me sinto finalmente pronta para assumir um compromisso vitalício: comigo mesma. 
  • Uma tatuagem - porque quero ter sempre comigo esta âncora, este símbolo de aprendizagens feitas que quero manter presentes na minha vida; esta lembrança do que sou e do que quero honrar. Porque agora me faz todo o sentido gravar na carne, num misto de dor e alegria, o que tenho vindo da mesma forma a desenhar e memorizar no corpo mental, emocional e espiritual. 
  • Permanente - porque nesta existência de inconstância e efemeridade, também cabe o que permanece.    
  • Uma borboleta - porque é o símbolo da transformação, e eu não quero esquecer-me que sou um ser em eterna transmutação. Quero lembrar-me da beleza e da dor no processo da lagarta. Quero lembrar-me dos meus maravilhosos processos e da minha própria beleza. Quero lembrar-me que quando nada parece estar a acontecer, é exactamente quando dentro do casulo toda a magia acontece.
  • Com uma auréola de anjo e rabo de demónio - porque sou luz e sombra, corpo e espírito, divina e humana. Porque tenho em mim todas as dualidades.
  • Com uma imperfeição (pedido que o tatuador estranhou e não cumpriu tão bem quanto eu desejava), porque assim sou: perfeita na minha imperfeição.
  • Nas costas - porque assim é, e assim sou, mesmo quando eu não o consigo ver. 
  • No centro - porque agora sou, e quero fazer por ser sempre, o meu centro.
  • Num sítio visível mas não flagrante - porque não quero esconder quem sou, e também já não sinto necessidade de o bradar aos céus (abro excepção neste espaço sagrado onde exibo conscientemente todas as minhas cores).
  • Expressa num desenho único e original - porque assim quero que seja a minha expressão: única, idealizada por mim, em traços livres.
  • Abstracta - porque também eu o sou. Para me lembrar que somos mais do que se vê num primeiro relance, que é preciso querer ver e olhar com atenção para ver mais além. Para me lembrar de todas as formas da ilusão. E porque, às vezes, também eu me sinto um emaranhado de rabiscos sem grande sentido, e quero ter presente a beleza que pode existir nesse emaranhado.

Não só a tatuagem em si como todo o processo me validaram aprendizagens fundamentais.
Se estou feliz com o resultado, é também porque fui humilde e confiei: tive a humildade de reconhecer os meus limites e pedir ajuda a quem desenha infinitamente melhor que eu, confiei que ele faria o melhor que soubesse e entreguei-lhe as minhas costas.
Se estou feliz com o resultado, é também porque criei uma relação empática, expressei a minha vontade, fui franca com o outro e leal a mim mesma: só assim foi possível chegar a este desenho, a segunda tentativa. Esta tatuagem também irá por isso lembrar-me da importância de ser verdadeira e explicar-me com clareza, respeito, e as vezes que forem necessárias, exactamente o que eu quero, e não me contentar com o que não me faz feliz, não aceitar um compromisso que não me realiza para agradar aos outros.
Adoro a minha tattoo e estou certa que ao longo da vida a minha linda borboleta vai acumular mais e mais simbologia.
Just a tattoo? Certainly not.





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