Depois da tempestade...


O chilrear dos pássaros anuncia-me que a Stephanie já partiu e o sol voltou a brilhar.
Algumas árvores derrubadas, uns quantos vidros partidos.
Incontornável é também o intenso cheiro a terra molhada. Apesar do frio a luz é quente, e parece avivar as cores dos velhos edifícios e dos canteiros que os adornam. Os verdes ficaram mais verdes e a relva transpira, pulsante de vida. Por agora o sol brilha.

Observa a tua casa. É possível que a sua estrutura tenha abanado, ou que tenha ficado virada do avesso. É possível que haja um rasto de devastação à tua volta.
E é por isso possível que precises de algum tempo para apanhar os cacos, recuperar os estragos, e repor a harmonia dentro das tuas paredes.
É também possível que essa te pareça agora uma tarefa infindável, demasiado penosa, e totalmente injusta: um castigo que não fizeste por merecer.
É, ainda, possível que ela volte; possivelmente ainda mais destruidora. E é possível, ou provável, que estejas novamente impreparado para a receber.

Quantas Stephanies já te visitaram na tua vida? Quantas vezes já sentiste que nunca dobrarias o cabo da Boa Esperança? E quantas vezes, quando te parecia impossível, acabaste por dobrá-lo e reencontrar a bonança do outro lado?
Lembra-te: mesmo depois da pior das tormentas regressa a calmaria, e a vida encontra sempre uma forma voltar a brotar em todo o seu esplendor. Mais cedo ou mais tarde o mar acalma, o furacão transforma-se em brisa, e o sol volta a iluminar os caminhos.
Há tempestades que não podemos evitar; às quais não conseguimos fugir. Se não te adianta fugir, abraça-a. Enfrenta-a. Vive-a. Sente a chuva, o vento e a trovoada. Chora as tuas perdas, vulnerabiliza-te, permite-te experienciar o sofrimento. E depois deixa-o partir, da mesma forma que chegou.
Deita fora o que se partiu, reconstrói o que ficou. Depois do temporal verás que encontras novos materiais à tua disposição, e que com eles vêm novas ideias e melhores projectos. Irás surpreender-te a olhar para a tua casa de uma perspectiva que nunca antes tinhas observado. Quando o sol voltar a entrar pelas novas janelas, quando ele beijar os teus novos bens, inundar cada recanto e te envolver no teu novo espaço, verás que afinal o castigo talvez tenha sido uma bênção, e que a tua casa está agora mais bonita que nunca!
Assim são as tempestades, e assim é a maravilhosamente inexplicável Vida.